
Em 1851, a residência da família
sofreu um violento assalto de criminosos locais. Em conseqüência deste episódio
a família Artusi decidiu abandonar aquelas terras mudando-se, em 1852, para Florença.
Imediatamente encontrou emprego em Livorno numa importante casa de comércio, e
graças a seu aguçado tino comercial, fundou um banco, tornando-se rapidamente
rico e famoso. Em 1870 retirou-se dos negócios para usufruir do fruto de seu
trabalho, mas não do ócio, devotando-se à leitura dos clássicos italianos. Escreveu os livros “Vita di Ugo Foscoli”, em 1878 e “Osservazioni in appendice a
trenta lettere di Giuseppe Giusti”, em 1880. Livros estes em poucas
tiragens e que não tiveram repercussão no meio literário. Mesmo assim, anos
mais tarde, se tornaria professor de literatura na Universidade de Florença.
Entre 1900 e a Primeira Guerra
Mundial a Europa gozaria de notável crescimento econômico que repercutiria
intensamente na Itália, como afirma Piero Camporesi: “do pão de milho passou-se àquele de trigo, que até então, era
reservado aos doentes. A carne, nem que seja aquela de coelhos, já comparece com mais freqüência nas mesas
camponesas”. A pelagra, doença causada pela falta de vitaminas, começa a
desaparecer da Itália e de toda a Europa.
Mas o italiano, enquanto língua,
ainda era uma raridade. Calcula-se que por volta de 1870, em uma população de
25 milhões de habitantes apenas 600 mil, ou 2.4% falavam a língua nacional. O
restante da população falava uma quantidade incalculável de dialetos que podiam
variar mesmo entre aldeias situadas a 10 ou 15 km de distancia. Em muitas das
receitas de seu livro, Pellegrino Artusi se ocupou dessa mistura lingüística
com observações e comentários que hoje soam engraçadas aos nossos ouvidos.
A obra de Pellegrino Artusi,
particularmente no “La scienza in cucina
e l’arte di mangiar bene”, é
considerada importante principalmente pela difusão da língua italiana no
território nacional. De fato, escrito em uma linguagem fluida, elegante e
harmoniosa o livro se tornou familiar a várias gerações de italianos, exercendo
uma presença preciosa e amiga: extraordinário exemplo de obra dinâmica e aberta
que cresce com a coleta comunitária e dividida com o público que dela participa
ativamente, sugerindo e criticando. O livro espalhou na casa dos italianos um
modelo de língua florentina fresca e viva, mas ao mesmo tempo correta e
controlada, sensível à tradição literária.

Neste livro as inesgotáveis
cozinhas italianas foram inteligentemente combinadas e assim resgatadas para a
criação de uma cozinha nacional ciosa de suas diversidades. Pode-se dizer que Pellegrino
Artusi foi o criador da cozinha italiana contemporânea. Mesmo sem ter cozinhado
qualquer coisa em sua vida, a natureza o tinha dotado daquela espontânea
serenidade que aparece em sua agradável prosa e que ele doou a todos para viver
tranquilamente, começando por ele mesmo: faleceu com mais de 90 anos, em Florença,
a 30 de março de 1911.
Das várias citações encontradas
no “La scienza in cucina e l’arte di
mangiar bene” podemos destacar uma delas que, a nosso ver, resume a
filosofia da obra de Pellegrino Artusi:
“Não se
vive apenas de pão; são necessários também os complementos; e a arte de torná-lo
mais econômico, mais saboroso, mais sadio, eu digo e sustento, é uma verdadeira
arte. Reabilitemos o sentido do gosto e não nos envergonhemos de satisfazê-lo
honestamente, mas da melhor forma possível, como ela (a vida) nos dá os
preceitos”.
Por: Annalisa Fazzioli Tavares - Diretora Social do Circolo Emilia-Romagna di San Paolo
Bibliografia e referências:
- Artusi, Pellegrino (http://www.trecani.it/enciclopedia/pellegrino-artusi)
- Pellegrino Artusi (http://www.pellegrinoartusi.it/pellegrino-artusi)
- Pellegrino Artusi – “La scienza in
cucina e l’arte di mangiare bene” (prefácio da 32° edição-1929)
- Gabriel Bolaffi – “A Saga da
Comida” (1° edição – 2000)
que resumo esclarecedor. parabéns ao blog
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