
Pellegrino Artusi nasceu em
Forlimpopoli (Forli-Cesena) em 4 de agosto de 1829. Estudou no seminário de
Bertinoro (Forli-Cesena) transferindo-se, posteriormente, a outra escola em Bologna,
apaixonando-se então pela literatura clássica. Retornando à casa natal, ajudou
seu pai na profissão de farmacêutico e, entre livros e remédios, viveu
tranqüilamente até seus 30 anos.
Em 1851, a residência da família
sofreu um violento assalto de criminosos locais. Em conseqüência deste episódio
a família Artusi decidiu abandonar aquelas terras mudando-se, em 1852, para Florença.
Imediatamente encontrou emprego em Livorno numa importante casa de comércio, e
graças a seu aguçado tino comercial, fundou um banco, tornando-se rapidamente
rico e famoso. Em 1870 retirou-se dos negócios para usufruir do fruto de seu
trabalho, mas não do ócio, devotando-se à leitura dos clássicos italianos. Escreveu os livros “Vita di Ugo Foscoli”, em 1878 e “Osservazioni in appendice a
trenta lettere di Giuseppe Giusti”, em 1880. Livros estes em poucas
tiragens e que não tiveram repercussão no meio literário. Mesmo assim, anos
mais tarde, se tornaria professor de literatura na Universidade de Florença.

Tomou gosto pela escrita elaborando
“La scienza di cucina e l’arte di
mangiar bene”, cuja
primeira edição foi publicada em 1891, em Florença,
livro este que recolhia, por meio do contato com suas leitoras do jornal, um
número de receitas que contemplavam a variação territorial particular de cada
localidade e seus diversos dialetos. Ao contrário dos anteriores, este livro
alcançou notável repercussão, não apenas enquanto receituário, mas também, e
principalmente, como unificador da língua italiana.
Entre 1900 e a Primeira Guerra
Mundial a Europa gozaria de notável crescimento econômico que repercutiria
intensamente na Itália, como afirma Piero Camporesi: “do pão de milho passou-se àquele de trigo, que até então, era
reservado aos doentes. A carne, nem que seja aquela de coelhos, já comparece com mais freqüência nas mesas
camponesas”. A pelagra, doença causada pela falta de vitaminas, começa a
desaparecer da Itália e de toda a Europa.
Mas o italiano, enquanto língua,
ainda era uma raridade. Calcula-se que por volta de 1870, em uma população de
25 milhões de habitantes apenas 600 mil, ou 2.4% falavam a língua nacional. O
restante da população falava uma quantidade incalculável de dialetos que podiam
variar mesmo entre aldeias situadas a 10 ou 15 km de distancia. Em muitas das
receitas de seu livro, Pellegrino Artusi se ocupou dessa mistura lingüística
com observações e comentários que hoje soam engraçadas aos nossos ouvidos.
A obra de Pellegrino Artusi,
particularmente no “La scienza in cucina
e l’arte di mangiar bene”, é
considerada importante principalmente pela difusão da língua italiana no
território nacional. De fato, escrito em uma linguagem fluida, elegante e
harmoniosa o livro se tornou familiar a várias gerações de italianos, exercendo
uma presença preciosa e amiga: extraordinário exemplo de obra dinâmica e aberta
que cresce com a coleta comunitária e dividida com o público que dela participa
ativamente, sugerindo e criticando. O livro espalhou na casa dos italianos um
modelo de língua florentina fresca e viva, mas ao mesmo tempo correta e
controlada, sensível à tradição literária.
“La scienza in cucina e l’arte
di mangiar bene”, além de constituir um delicioso receituário, ainda hoje
universalmente conhecido, continua sendo uma âncora da tradição italiana do
presente. Atualmente a obra se encontra na 62ª edição na Itália, com 450.000
cópias (dados de 2011) e foi traduzido para diversas línguas sendo que uma das
traduções mais recentes (2009) foi para o português (tradução de Anabela Cristina
Costa da Silva Ferreira - Associação Emiliano-Romagnola Bandeirante – Salto-Itu).
Neste livro as inesgotáveis
cozinhas italianas foram inteligentemente combinadas e assim resgatadas para a
criação de uma cozinha nacional ciosa de suas diversidades. Pode-se dizer que Pellegrino
Artusi foi o criador da cozinha italiana contemporânea. Mesmo sem ter cozinhado
qualquer coisa em sua vida, a natureza o tinha dotado daquela espontânea
serenidade que aparece em sua agradável prosa e que ele doou a todos para viver
tranquilamente, começando por ele mesmo: faleceu com mais de 90 anos, em Florença,
a 30 de março de 1911.
Das várias citações encontradas
no “La scienza in cucina e l’arte di
mangiar bene” podemos destacar uma delas que, a nosso ver, resume a
filosofia da obra de Pellegrino Artusi:
“Não se
vive apenas de pão; são necessários também os complementos; e a arte de torná-lo
mais econômico, mais saboroso, mais sadio, eu digo e sustento, é uma verdadeira
arte. Reabilitemos o sentido do gosto e não nos envergonhemos de satisfazê-lo
honestamente, mas da melhor forma possível, como ela (a vida) nos dá os
preceitos”.
Por: Annalisa Fazzioli Tavares - Diretora Social do Circolo Emilia-Romagna di San Paolo
Bibliografia e referências:
- Pellegrino Artusi – “La scienza in
cucina e l’arte di mangiare bene” (prefácio da 32° edição-1929)
- Gabriel Bolaffi – “A Saga da
Comida” (1° edição – 2000)